Neste post falei de um dos conceitos criados pelos seres humanos relacionado à nossa natureza de animais sociais: a moralidade. E, talvez tão primitivo e ancestral quando a moral, ou talvez surgido com base nela, a justiça é outro conceito que acompanha a humanidade desde seus primórdios e é uma das bases de nossa sociedade.
Não é fácil definir em palavras o que é justiça, apesar de todos nós sabermos o que ela significa. Justiça é a retidão, o direito, o certo; é punir quem causa o mal e recompensar quem pratica o bem; é retribuir cada indivíduo de acordo com suas ações. Estudos revelam que o senso de justiça é provavelmente uma característica herdada de nossos antepassados por meio da seleção natural. Mas, assim como nossa sociedade e, por conseqüência, nosso senso de moral foram ficando cada vez mais complexos, essa definição simplista de justiça passou a ser insuficiente para lidar com as situações práticas que surgiam. O “olho por olho, dente por dente” bíblico não era capaz de resolver os problemas cada vez mais sofisticados que as relações humanas iam criando.
E da mesma maneira que a moralidade é maleável e foi adaptada para cada uma das sociedades que foram surgindo ao longo dos séculos, os padrões de justiça também foram mudando; curioso notar, porém, que o conceito em si não mudou; apenas aquilo que ele representa ganhou outro significado. Dessa forma, no Japão do século XVI era justo que um samurai matasse quem insultasse sua família ou sua honra; na Inglaterra do século XIX era justo que um assassino fosse enforcado por seus crimes; e no Brasil do século XXI é justo que o Tiririca seja eleito deputado.
Mas, apesar dessas diferenças na interpretação de justiça de acordo com a sociedade e a época, podemos realmente dizer que há justiça em punir um agressor ou reparar uma vítima? Por exemplo, qual a punição justa para um assassino? Mesmo que apliquemos a pior punição possível – vamos considerar que seja a pena de morte – seria ela uma punição justa? Imagine que um homem de 40 anos violente, torture e mate uma criança de 10. Será que a simples morte do criminoso é uma punição justa ao crime que cometeu? Considerando todo o sofrimento que ele causou tanto à vítima quanto a seus pais e familiares, o tempo de vida da criança que lhe foi tomado e o prazer sádico que o criminoso sentiu, é possível dizer que qualquer punição que seja aplicada será justa?
Casos como o do exemplo, e às vezes até piores, aparecem todos os dias nos jornais e noticiários. Mesmo quando não são tão graves, como o roubo de um carro ou uma agressão qualquer sofrida, a falta de uma punição ou retribuição adequada (segundo nossa própria percepção de justiça) nos incomoda e traz indignação. Por isso, aqueles que acreditam em vida após a morte automaticamente acreditam em algum tipo de “justiça divina”, esperando uma recompensa por suas perdas e uma punição para seus agressores (e muitas vezes esquecem suas próprias transgressões).
De fato, depois do “medo da morte”, o “senso de justiça” é nosso instinto mais explorado pelas religiões para conquistar fiéis. Ninguém quer admitir que a vida é cheia de injustiça; que nem sempre boas ações são recompensadas e vilões são punidos. Acreditar que haverá justiça do outro lado é tão reconfortante quanto acreditar que existe um “outro lado”. Mas, mesmo que haja um “outro lado”, e mesmo que haja uma punição para aqueles que escaparam da justiça terrena, será que realmente seria uma punição justa? Afinal, como determinar a punição justa para um crime, seja ele qual for?
No final das contas, a justiça é apenas mais uma ferramenta a ser usada por nossa sociedade para nos manter longe da barbárie, mas nem de longe é um conceito universal inerente à natureza humana. Talvez seja reconfortante acreditar que existe algum tipo de Lei Superior ou uma Justiça Divina, mas eu acho mais produtivo aceitar que o mundo é um lugar injusto e viver a vida sem se preocupar muito com isso.
“A vida é boa, mas não é justa. Nem um pouco. Acostume-se com isso”
– Marcelo Nova
[…] ser ou não fútil, assim como tantas outras coisas, é completamente subjetivo. Na verdade, do ponto de vista niilista, toda a […]
E TD DE ACORDO COM A JUSTIÇA NAO É VERDADE???
Hein?